quinta-feira, 22 de maio de 2014

A perna e a mão. Histórias macabras, presidenciais e reais

          A perna.
       
" El 27 de septiembre de 1842 una procesión religiosa acompaña al miembro del dictador. Obispos, embajadores y generales persencian el desfile militar que acompaña al miembro."

        Antonio López de Santa Anna ( 1794 -1876) foi um general mexicano que venceu inúmeras batalhas e depois tornou-se ditador do México. Em uma das batalhas perdeu a sua perna e decidiu fazer um funeral absurdo, como se fosse o próprio funeral dele na cidade do México. A perna funciona como uma metáfora do sacrifício dele pelo país - foi uma sacada e tanto pois reconstruiu a sua imagem e teve mais força política para continuar governando. Com a constante mudança de governo e com as ganas que os mexicanos tem pela pelea política, no final das contas, a sua perna não teve o descanso dos justos. Em 1844 em uma rebelião contra o ditador a sua perna foi tirada do sepulcro e arrastada pela Cidade do México. 
          Ele, por sua vez, colocou um membro falso para endireitar o andar e saiu para uma caminhada triste. Parece que os seus últimos anos não foram bons. 


        A mão.

“la mano de Obregón se pudrió, se encogió y se deshizo en espaguetis”
Elena Poniatowska

         No dia 2 de junho de 1915 Obregón, um general da Revolução Mexicana que se tornou presidente, perdeu sua mão. Diferente de Santa Anna, Obregón não usava a sua perda como uma metáfora de um sacrifício em prol do México. Não! Ele usava a ausência da mão como metáfora da sua honestidade política. Todos eram corruptos, ele, ao menos, tinha só uma mão, o que fazia com que roubasse menos. Porém, assim como Santa Anna o membro amputado tinha uma mausoléu. Aliás, a novela foi pior. Ele guardou a mão no formol durante anos e depois foi construído um monumento, na Bombilla aqui em D.F., onde a mão se encontrava. Em 1989, a família decide tirar a mão do revolucionário e cremá-la. Imagina por que? Estava em decomposição - argh! Bom, depois de cremada uniu-se aos demais restos mortais de Obregón e, no lugar da mão verdadeira há uma réplica de bronze.
          Um detalhe, no monumento de Obregón está ele, a sua mão, o cara que arrancou a sua mão e, se não me engano, o cara que o matou também. Tudo estátua, pelo menos até o momento!

La Madre II

       Compartilho com vcs mais uma descoberta sobre a instituição La Madre: o verbo desmadrar que, por derivação, também tem um substantivo, desmadre.

         O verbo desmadre tem dois sentidos:

         * separar uma cria da mãe
         * agir descontroladamente, sem medida.


        Agora, imagina de onde vem o significado do substantivo desmadre? Com certeza não é do primeiro sentido. Então, aí vai a definição de desmadre:

desmadre
  1. m. Desbarajuste, caos, confusión:
    este armario es un desmadre, no se puede encontrar nada.
  2. Pérdida de la mesura, exceso incontrolado:
    hay que poner un poco de disciplina o los alumnos llegarán al desmadre absoluto.
  3. Jolgorio incontrolado:
    la fiesta fue un auténtico desmadre.


       Então, agora a minha super-interpretação-freudiana-selvagem: quando a gente tá sem a mãe tudo vira um caos ou uma farra, né?

     

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Virgem de Guadalupe e a Niña Blanca - La Santa Muerte

      Se eu fosse uma filosofa e me dedicasse a compor uma obra sem dúvida alguma o tema principal dela seria o sagrado. A filosofia assim com as religiões, creio, são véus para entender não só a vida como também a morte. São vias de reflexão da vida para compreender o que é morrer, o que é ser efêmero. Não tenho a menor dúvida que a minha pesquisa de mestrado foi uma terapia pessoal, digamos. Estudei um deus marcado pela morte e pelo renascimento, além disso, estudei um deus que empodera-se quando há um confronto entre os discursos dos homens e dos deuses. Lembrando que palavra é memória e memória é um tipo de manutenção de uma das vias da vida - tanto a palavra da razão, logos, como a palavra sagrada do aedo são batalhas diárias, cotidianas pela vida e, ao mesmo tempo, pela morte. 
          A palavra é uma dos caminhos de perpetuação e criação da vida, é sagrada no sentido de que gera uma alteridade entre os homens e impede o esquecimento completo.
       Pois bem, a experiência da realidade criada acerca da morte e, por conseguinte, da vida aqui no México é um delírio estético e existencial para mim. A efemeridade da vida se dá por cultos, por túmulos, por deidades e divindades que representam de uma forma muito intensa a morte, sem, entretanto, deixar de louvar à vida.
          No domingo fui à Catedral da Virgem de Guadalupe. Detalhe, não acreditem quando disserem A CATEDRAL porque nesse lugar tem um monte de Igrejas. Algumas foram feitas no lugar onde a virgem apareceu e, como o santuário é intensamente frequentado, fizeram outras e outras. Há dois tipos de arquitetura: catedrais muito antigas da época dos espanhóis e uma ultra-mega modernismo que é gigantesca. A história da construção do santuário é, como sempre, lamentável. Para impor o seu poder, os espanhóis construíram as catedrais em um santuário da deusa asteca Tonantzin  que está ligada à fecundidade e às plantas. Não que os Astecas fossem o povo mais santo do mundo, aliás, usavam do sacrifício humano não apenas como uma ferramenta de perpetuação dos paradigmas míticos, mas para a imposição de um tipo de medo que mantenha a ordem. 
       Mas, enfim, entre os colonizadores e os colonizados sempre opto pela verdade-histórica dos colonizados.
         Ir a esse templo é uma experiência incrível. Eu fui junto com uma amiga que ia acender uma vela para a Virgem de Guadalupe, pedindo um meio de campo da santa para curar a sua mãe que estava enferma. Bom, já que tava no rolê levei uma vela e acendi para deusa Tonantzin. Uma coisa assustadoramente incrível e linda que senti: o conforto que se tem no lugar. Apesar de toda arquitetura opressora do cristianismo mais da narrativa de conquista dos espanhóis - aquela estética, a Santa chegando e os índios pagando um pau e tal! Apesar disso, o lugar é delicioso! Tem umas cachoeiras lindas, jardins incríveis, cactos lindos, lindos e lindos. 
       Depois de ter feito o tour pelas igrejas, subir e descer escada, tirar foto em cavalinho com chapéu mexicano e fazer um chaveiro - sim, sou estrangeira e faço os rolês clichês também - fomos a um mercado só de bugiganga religiosa. Havia blusas da Virgem de Guadalupe na versão quase rock´n roll, havia imagens, imagens, imagens e imagens de santos, havia comida, havia terços em todas as versões: feito de madeira, de linha, para crianças, enfim, havia velas, havia venda de DVD pirata, claro (!), havia altares para a Virgem e havia um, um único altar para La Santa Muerte.
       Uau!
      Quando cheguei,  duas coisas me chamaram atenção concomitantemente: os dizeres do altar e um jovem casal que estava fazendo a iniciação de um dos seus filhos no culto à La Santa Muerte. A criança deveria ter um mês de vida, estava no colo do pai que encontrava-se em um vórtice temporal. Qualquer circunstância da vida alheia; o barulho das vendas, os passos das pessoas e a curiosidade de quem rende o olhar ao mistério não podiam esbarrar nele. Estava profundamente ensimesmado, mas não na soledad dos Aurelianos. Estava ele, nesse vórtice temporal com La Santa Muerte. Me parece que oferecia à ela a sua criança ou pelo menos fazia alguma iniciação. Fumava um cigarro, desses malborão filtro vermelho e passava a mão na cabeça da criança. Ele fumava o cigarro, dentro de um mercado, com uma tranquilidade e com uma temporalidade ritual. Não entendi como seus tragos duravam tanto e, ainda, como ao sai deixou metade do cigarro no altar de La Santa Muerte.
      O altar era uma mini-capela. Tinha um esqueleto no tamanho de um homem com as insígnias que caracterizam La Santa Muerte. Ela estava vestida de branco, como uma noiva, tinha a balança e uma cruz ao fundo com uma serpente no lugar de Cristo. O fundo da capela era azul com algumas estrelas desenhadas, frente ao fundo estava La Santa Muerte e frente a ela havia uma cerca. Nessa cerca eram colocadas frutas, bebidas e cigarros. Foi nesse lugar que o homem, de poucas palavras e olhares, colocou o cigarro que já era uma metade por acabar-se. Saiu, tão ensimesmado quanto chegou. Saia de si somente para lançar uns olhares negando os olhares dos demais. A sua esposa foi simpática, saiu e sorriu.
         A outra coisa que me atraiu o olhar foram os dizeres. Na parte da frente da capela-altar estava escrito Mi Niña Blanca. Achei tão bonito e tão carinhoso; é muito amor! Essa coisa de temor e receio ao ver um sagrado materializado em esqueleto passou. Ali meu olhar se alargou um pouco e percebi que o problema com a morte não é dos mexicanos, mas meu. Sou eu quem tenho o medo de encarar o esqueleto. Depois de alargar o olhar, pensei: da mesma forma que se ama a vida deve se amar a morte. Aqui a morte é amada e, preza-se para que seja tão boa quanto a vida.
       O culto de La Santa Muerte é muito peculiar. Ele mistura coisas das mitologias astecas e maias, em especial, apropria-se dos cultos das divindades antigas para suprir esse vazio que o cristianismo deixou. Vejam bem, Jesus não morreu, ele ressuscitou e a esperança de todo cristão é que ressuscite também. Mesmo que a pessoa morra, há uma crença em um retorno e em um reencontro quando ocorrer a ressurreição e os justos se levantarem dos túmulos e #partiucomjesus! Aqui essa crença na ressurreição, ao que me parece, não supre o aparato mítico e religioso das demais crenças, na real, os espanhóis não foram tão fodas assim e não tiveram tanto poder. A relação com a morte, penso, é um desses núcleos de resistência e poder das tradições mais antigas daqui.
       Ao mesmo tempo, La Santa Muerte tem códigos cristãos. Até pouco tempo muitos católicos cultuavam La Santa Muerte vendo-a como uma Virgem, similar à Nossa Senhora de Fátima, de Conceição, Aparecida... A igreja católica fez o maior fuzuê aqui, rolou uma campanha pesada mostrando que La Santa Muerte não tem nada a ver com Maria e, tcharam, é coisa do tinhoso! Muitas pessoas guardavam o santinho dela na carteira junto com algum outro santo. Porém, depois dessa campanha de segregação e negação de La Santa Muerte muita gente a vê como um culto satânico ou como pecado. 
         Enquanto o homem ensimesmado estava iniciando a sua criança, passou uma mulher com um filho e disse; " Tá vendo, isso é pecado!" Pobrecita da criança, perdendo um espetáculo lindo por causa do cristianismo.
         Há também mais um aspecto do culto, que não é dos mais tranquilos. Muitas pessoas que o realizam fazem parte do narcotráfico. Penso que é uma coisa ao mesmo tempo muito saudável e muito patológica. Ao mesmo tempo que pensam que a morte tem que ser tão boa como a vida, o que eu acho incrível, convivem bastante com a morte de uma forma muito agressiva e voraz; pedem uma boa morte porque sabe da crueldade e da violência que há nos códigos do narcotráfico. Bom, a coisa é tão pesada quanto o tráfico no Brasil e as formas de morrer são rodeadas de requintes de crueldade. La Santa Muerte exerce o papel mítico de combate à violência que os próprios homens são capazes de realizar.
        E, para encerrar, é um culto realizado na periferia, por pessoas pobres. Desse modo há muitos motivos para ser negado pelo Estado e pelo cristianismo. É uma segregação social, uma marginalização dos pobres acentuado pela associação pobreza-narcotráfico e, ainda, uma negação das culturas ancestrais por meio da imposição do cristianismo. Quanto a associação pobreza-narcotráfico é uma visão parcialmente muito embaçada porque os narcos tem muito, muito poder aqui. Em um documentário muito bom chamado Narco Cultura foram mostrados alguns cemitérios dos narcotraficantes que são verdadeiros túmulos de um rolê ostentação, enterram as pessoas com bens materiais, por exemplo, carros. Então, essa assimilação entre La Santa Muerte com pobreza é um pouco rasa, principalmente, quando um dos aspectos do seu culto é dar fortuna a quem a cultua - e muitos conseguem.
        Por fim, termino com mais um dos dizeres da capela-altar. Não preciso me ater muito a ele e explicar algo, pois por si só faz todo sentido. " No temas a donde vayas porque haz de morir donde debes."
          
      


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Cotidiano

         Notas:
     
     * Quando estiver andando na rua e pedir informação para algum morador da Cidade do México, os chilangos, se ele disse que não sabe, fique muito feliz. A coisa mais comum aqui é eles darem uma informação e ela estar completamente errada. 

     *  O pouco de intimidade que eu ganhei com algumas pessoas daqui, me tirou da zona de conforto em um aspecto: o que eles te desejam. É super comum quando você se despede de uma pessoa e ela lhe diz: "Tenha um bom dia!" ou "Que seu dia seja muito bom!" ou, ainda, "Tenha um liNdo dia!" Não se trata de um "tenha um bom dia" distante, um pouco impessoal. Eles colocam mta ênfase nesse desejo, o que eu acho super fofo!

     *  Há uma separação no metro e no metrobus, entre vagões para todos e vagões específicos para mulheres, idosos ou pessoas com alguma deficiência. E, gente, não é sempre que acontece isso, mas, às vezes, acontece de pegar um metrobus rosa!


       *   Uma coisa que é muito comum nas estradas brasileiras é algum tipo de altar-túmulo. Por exemplo, se uma pessoa morreu em uma parte da estrada, a família coloca uma cruz ou algo para simbolizar o ocorrido no lugar. Eu tenho impressão que eu vi isso duas vezes aqui, dentro da capital, em lugares com mto, mto trânsito.



       *    Gente, tá vendo a foto da estátua desse dog aqui? Esse cãozinho mesmo com jeito de quem precisa de afeto. Então, tá pensando que é o cachorro do Zapata ou de algum presidente? Não! Pois é,  isso é um monumento para os cachorros de rua. Isso mesmo, repito,  para o cachorros de rua!




        *  Ah, falando em estátuas bizarras, vai vendo essa. O papa, acho que o João Paulo, visitou o México e como forma de homenageá-lo e agradecer a visita, fizeram uma estátua dele, tcharam (!) com as chaves dos fiéis. Entendam, cada fiel doou uma chave para fazer a estátua. 




     * De gaiato, coloco a foto dos cadeados para o santo (???) que eu contei na primeira postagem. Oxê, tadinho do santo, vai ter que labutar mto pra ajudar os míseros mortais. O altar de cadeados e a imagem do papa estão na mesma igreja.



      
    *    Fato, os mexicanos tem um talento incrível para misturar as cores. Como, como eles conseguem usar tons tão fortes e sempre cair bem? Olha, até os muros, sujos e pichados ficam harmônicos com as cores. Uma coisa é impressionante, os grafites.  Muitos deles tem um estilo meio mural. Aí vão as fotos de uns que eu achei lindões.

 

 



      *   Tadinhos, vou mostrar uns chumbregas, que achei muito legal o jogo de cores.




      *    Olha as cores dos cartazes que são usados pra anunciar vendas, empregos, doações, enfim, td! Não dá pra fingir que não viu, não dá mesmo!





            * Por fim, encerro com uma flor de cacto lindíssima! :)



     

sábado, 10 de maio de 2014

Dia das Mães

       Hoje, sábado, é dias das mães aqui no México. Me parece que aqui funciona diferente o calendário, não é como no Brasil que é o segundo domingo de maio. O dia 10 de maio é o dia das mães como para nós o dia 12 de outubro é dias das crianças. Como é um feriado, o trânsito estava babado! Algumas lojas estavam abertas outras fechadas, mas os restaurantes chiques, aqueles de encontro da tradicional família estavam não só abertos como abarrotados. Sabe aquele lugar que vc passa e o perfume das mulheres mais o cheiro da comida se misturam? É isso!
          A Cidade do México é muito grande, então, as coisas aqui se organizam através de uma lógica de distritos que, me parece, que são chamados de delegações. Então, fui dar um rolêzinho na minha delegação sabendo que não haveria muitas coisas pra fazer e que a maioria dos conhecidos, aliás, todos exceto um não está em alguma festividade com a família. 
       Uma coisa muito bonita é que as pessoas passavam com flores nas mãos e muitos lugares, onde geralmente não havia nada, estavam ocupados com barracas de flores. E as flores ocupavam os espaços de todas as formas, seja na decoração, seja no próprio lixo ou seja nos mercados. Aqui vão umas fotinhas do meu dia de hoje.









   

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Mundão sem porteira

           Desde que cheguei aqui no México passei por dois terremotos. O primeiro não senti, já o segundo como estava no segundo andar senti com muita força. A minha reação foi completamente mimética. Como no primeiro eu estava com a Andrea e a vi saindo de casa correndo, eu, então, desci as escadas correndo e fui para a rua. Chegando na rua as pessoas estavam tranquilas, nem tinham sentido o tremor. É a segunda vez na minha vida que experimento um terremoto, o primeiro foi no Timor-Leste. Sempre é uma sensação esquisita. Acho que deve vir algo muito inconsciente em mim que diz: “ Como assim, o chão não está firme! Não posso confiar no chão!” Cada vez mais acredito que os lugares que são mais suscetíveis às tragédias ou aos desconfortos oriundos das condições geográficas da Terra possuem um aparato mitológico fudido.        
           Enfim...
        Mas, não vou me ater às divagações sobre o sagrado porque o melhor de tudo que ouvi sobre o terremoto foi uma música. Gente, mundão sem fronteira! Os mexicanos são tão descompensados como nós brasileiros para criar músicas. Usam dos fatos do cotidiano e fazem uma narrativa musical divertidíssima!
           Olha essa música pós-terremoto:

https://www.youtube.com/watch?v=aVlc1gHs4tQ

           Aqui vai a letra:

http://www.musica.com/letras.asp?letra=1837914

         O nome dela é Donde te agarro el temblor. O cara tava super se divertindo em uma dança e então percebe que seus passos não estavam de acordo com o ritmo da música. Daí por diante começa um fuzuê. E o terremoto, aliás, el temblor, o encontra em situações inusitadas.
        (Sorry, essa música vai ficar na sua cabeça por muito, muito, muito tempo. É tipo aquela lambada: chorando se foi quem um dia só me fez chorar... Vai demorar pra sair da cabeça mesmo!)
         Pois bem, essa música é um nível light! Narra de forma tranquila um terremoto que nem sempre é acompanhado de tragédias.Vai vendo a outra música que descobri aqui.
          Tem uma cantora chamada Amandititita que toca cumbia. Ela fez uma música La Mataviejitas, A mata velhinhas, e gente, pasmem: a história é baseada em fatos reais. Teve aqui no México uma serial killer que matava velhinhas. A história é um horror, me parece que ela matava velhinhas que viviam sozinhas. Iniciou a sua série de crimes nos anos noventa e foi presa somente no início dos anos 2000. Os crimes tinham um modus operandi, a característica mais leve que destaco da prática de La Mataviejitas é que ela se vestia de vermelho para realizar os crimes. Nem vou colocar o link aqui porque a tragédia é grande, feia e não vale a pena se perder muito nela. O horror não se restringe somente aos crimes, mas também a vida que La Mataviejitas tinha; uma história de vida pesadíssima!
           Pois bem, depois de resolvido os crimes, depois da prisão de La Mataviejitas o que acontece? Uma música, claro! E da Amandititita. Aí vai o link!

https://www.youtube.com/watch?v=h7AzOgVxZv8&feature=kp

        Gente, ainda bem que no nosso brasilzão a gente tem a Valesca, né? Imagina, a criatividade dos mexicanos é de dar inveja. O bom da Valesca é isso, porque além de criativa ela nos ensina a não ter recalque quando nos encontramos em situações como essa.

Beijinho no ombro

PS.: Estou fazendo um intensivão com alguns amigos mexicanos para ensinar o conceito do recalque by Valesca-pensadora-que-leu-Freud!. Eu acho que minha empreitada só tem duas vias: a pura glória ou a pura derrota! Até hoje não sei me situar, não sei se a relação com La Madre é a superação extrema nível hardcore do recalque ou se é justamente o contrário... Meditarei sobre o assunto durante alguns dias e, se encontrar alguma conclusão, conto pra vocês!

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Ser mulher no México

     Uma das minhas grandes dúvidas sobre o México era em relação ao machismo. Um dia, conversando com o Natan, perguntei para ele se o México é um país machista e como seria o meu cotidiano. E ele disse; "Relax, vc é brasileira! Vai conseguir se virar." Na verdade, foi um elogio à minha luta contra o machismo no Brasil e que independente de onde eu esteja posso conseguir me expressar. Pois bem, passarei algumas impressões minhas aqui.
      Na rua os homens mexem, mas não tanto como os brasileiros. Vez ou outra se ouve; "Olá corazón!" Aiai, como bem diria o Alejandro Sanz,"tiritas pa esse corazón partío!" Mas psiu não se ouve muito... Uma coisa é os caras mexerem com vc na rua dentro de uma prosódia que é familiar, no meu caso, dentro do ritmo da língua portuguesa do Brasil. Outra coisa é mexer com o ritmo da língua espanhola e do sotaque mexicano. Nos primeiros dias, umas três vezes que mexeram comigo na rua eu não tinha entendido, então eu olhava e dizia: "Oi! O que que foi?" Sei lá, achei que estavam falando algo relevante para mim. O mais engraçado é que quando eu respondia, os mexicanos fingiam que eu não tinha falado nada com eles. Imagina, se fosse no Brasil, os caras não ficariam constrangidos, complementariam a cantada primeira.
      Uma outra coisa que me impressiona bastante aqui é a quantidade de jornalistas na TV. Gente, é muita mulher sendo jornalista e, o mais importante, mulheres que são referências na comunicação. Não se trata apenas delas apresentarem um jornal dizendo a notícia, mas de comandarem um programa jornalístico de opinião.
       Quanto a estética das propagandas, uma coisa é muito interessante. Embora eu ache que a TV daqui tenha uma máquina de cooptar todas as pessoas brancas e jogá-las nas novelas, as propagandas, mesmo que sejam com pessoas de um padrão estético diferente das pessoas das ruas, têm muito menos photoshop. Outro dia estava no Metrobus, claro, a minha segunda casa, e vi uma propaganda de uma mulher loira e dos olhos azuis com pé de galinha. E ela era jovem, devia ter seus 30 anos. No Brasil pra sair na capa de uma revista, uma mulher precisa rejuvelhecer não sei quantos anos. Mas uma coisa fique clara, aqui não é o paraíso estético, há bastante photoshop, plásticas, silicone. Sabe aquele nariz meio que do Esqueleto, rival do He-man, que muitas apresentadoras brasileiras tem? Então, aqui rola esse nariz!
     Por fim, uma coisa que me deixa um pouco mais tranquila aqui é a postura corpórea dos mexicanos. É algo muito sútil,  mas os homens tendem a ter uma postura muito menos agressiva e impositiva que no Brasil. É uma experiência engraçada ver uma conversa entre um brasileiro e um mexicano, é impressionante como, a meu ver, o mexicano vai por uma via mais pacífica para o diálogo. E, uma coisa é fato, quando se está em um bar ou em uma balada não há aquela tensão toda de paquera - o homem olhando loucamente para uma menina o tempo todo. O que não impede de ter uns folgados, né? Mas o número é reduzido.
      Talvez isso seja uma impressão oriunda da condição minha aqui, sou estrangeira e tenho cara de estrangeira, então, pode ser que eu não seja uma pessoa que o cara vai querer apostar as fichas, sabendo que eu posso não entender nada do que ele diz.
      Bem, essas impressões são ainda muito frescas, pode ser que eu esteja equivocada em relação à algumas.Com certeza, há muitas entrelinhas que eu não capto por ser estrangeira e estar aqui a muito pouco tempo.