quarta-feira, 7 de maio de 2014

Ser mulher no México

     Uma das minhas grandes dúvidas sobre o México era em relação ao machismo. Um dia, conversando com o Natan, perguntei para ele se o México é um país machista e como seria o meu cotidiano. E ele disse; "Relax, vc é brasileira! Vai conseguir se virar." Na verdade, foi um elogio à minha luta contra o machismo no Brasil e que independente de onde eu esteja posso conseguir me expressar. Pois bem, passarei algumas impressões minhas aqui.
      Na rua os homens mexem, mas não tanto como os brasileiros. Vez ou outra se ouve; "Olá corazón!" Aiai, como bem diria o Alejandro Sanz,"tiritas pa esse corazón partío!" Mas psiu não se ouve muito... Uma coisa é os caras mexerem com vc na rua dentro de uma prosódia que é familiar, no meu caso, dentro do ritmo da língua portuguesa do Brasil. Outra coisa é mexer com o ritmo da língua espanhola e do sotaque mexicano. Nos primeiros dias, umas três vezes que mexeram comigo na rua eu não tinha entendido, então eu olhava e dizia: "Oi! O que que foi?" Sei lá, achei que estavam falando algo relevante para mim. O mais engraçado é que quando eu respondia, os mexicanos fingiam que eu não tinha falado nada com eles. Imagina, se fosse no Brasil, os caras não ficariam constrangidos, complementariam a cantada primeira.
      Uma outra coisa que me impressiona bastante aqui é a quantidade de jornalistas na TV. Gente, é muita mulher sendo jornalista e, o mais importante, mulheres que são referências na comunicação. Não se trata apenas delas apresentarem um jornal dizendo a notícia, mas de comandarem um programa jornalístico de opinião.
       Quanto a estética das propagandas, uma coisa é muito interessante. Embora eu ache que a TV daqui tenha uma máquina de cooptar todas as pessoas brancas e jogá-las nas novelas, as propagandas, mesmo que sejam com pessoas de um padrão estético diferente das pessoas das ruas, têm muito menos photoshop. Outro dia estava no Metrobus, claro, a minha segunda casa, e vi uma propaganda de uma mulher loira e dos olhos azuis com pé de galinha. E ela era jovem, devia ter seus 30 anos. No Brasil pra sair na capa de uma revista, uma mulher precisa rejuvelhecer não sei quantos anos. Mas uma coisa fique clara, aqui não é o paraíso estético, há bastante photoshop, plásticas, silicone. Sabe aquele nariz meio que do Esqueleto, rival do He-man, que muitas apresentadoras brasileiras tem? Então, aqui rola esse nariz!
     Por fim, uma coisa que me deixa um pouco mais tranquila aqui é a postura corpórea dos mexicanos. É algo muito sútil,  mas os homens tendem a ter uma postura muito menos agressiva e impositiva que no Brasil. É uma experiência engraçada ver uma conversa entre um brasileiro e um mexicano, é impressionante como, a meu ver, o mexicano vai por uma via mais pacífica para o diálogo. E, uma coisa é fato, quando se está em um bar ou em uma balada não há aquela tensão toda de paquera - o homem olhando loucamente para uma menina o tempo todo. O que não impede de ter uns folgados, né? Mas o número é reduzido.
      Talvez isso seja uma impressão oriunda da condição minha aqui, sou estrangeira e tenho cara de estrangeira, então, pode ser que eu não seja uma pessoa que o cara vai querer apostar as fichas, sabendo que eu posso não entender nada do que ele diz.
      Bem, essas impressões são ainda muito frescas, pode ser que eu esteja equivocada em relação à algumas.Com certeza, há muitas entrelinhas que eu não capto por ser estrangeira e estar aqui a muito pouco tempo.

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